Laís está internada com diagnóstico inicial de escarlatina. Pensávamos que não voltaríamos tão cedo aos corredores de um hospital, mas não houve jeito. Já completamos dois dias aqui e só hoje conseguimos desfrutar de uma pontinha de alívio. O quadro era tão feio que era impossível não entrar em desespero. Ela não tinha forças sequer para se sentar, e chorava a qualquer tentativa de tocar sua pele, que parecia queimada de sol. A pediatra também quis descartar a possibilidade da doença de Kawasaki (não sei como se escreve, depois pergunto ao Dr. Google) por isso pediu um ecocardiograma e a avaliação de um reumatologista. O eco deu normal, e o reumato ainda não veio. Acho que esta suspeita não vai se confirmar, ela está sem febre desde hoje cedo. -Ísis permaneceu em casa com a avó. Não pegou por pouco, estava tomando antibiótico por conta de um impetigo surgido no furo da orelha. - Os médicos e enfermeiros só adentram nosso quarto usando máscaras, mas os parentes e amigos que vieram visitar não demonstraram medo nenhum. Hoje, distraída com a lousa mágica que ganhou da tia-avó, Laís conseguiu suportar o incômodo do antibiótico na veia. Já brinca, os olhos desincharam, está menos vermelha e não reclama mais quando a tocamos. A pele descama em demasia, e afasta aquela “carinha de doente” que nos fazia tremer de medo de perdê-la. No entanto, sabemos que ainda há uma caminho a percorrer em direção a um completo restabelecimento, mas já não choro só de examinar seu rostinho... Meu olhar agora é de alegria, procuramos brincar com ela e esquecer que, de agora em diante, o mais importante é fazer com que este momento seja o menos doloroso possível... Quem sabe amanhã estaremos de volta para casa?
Domingo, 21 de março de 2010.
Estamos em casa. No carro, a caminho de casa, Laís não podia conter sua gargalhada, ficou radiante de ver o sol. Depois de quatro dias enclausurada, até eu perdi a noção da vida lá fora. Você não sabe se está chovendo, se está calor ou frio... No entanto, eu agradeci a Deus por ter ficado tão pouco tempo. Algumas mães passam seus dias e noites direto em hospitais. Peço perdão por ter reclamado.
Terça-feira, 23 de março de 2010.
Laís está bem melhor, a única coisa que a incomoda agora são as roupas, já que seu corpo está todo descamando e o calor reina. (Lá no hospital ela ficava no ar condicionado o dia inteiro, mas aqui em casa não dá. Na verdade também não queremos, nem eu nem ela. Ficamos tempo suficiente a janelas fechadas, sem sentir brisa nem ver a luz do sol. O pai ainda saía, mas eu sequer desci ao andar térreo) Portanto, ela só quer ficar assim: PELADA. E com a fralda arriada até o meio do bumbum. Volta e meia está se coçando e arrancando as pelinhas. Até a Ísis tem se ocupado em descascar a irmã.
Quinta-feira, 25 de março de 2010.
O antibiótico que a Laís está tomando é um veneno pra mim. Antes o receitado foi a amoxacilina, mas eu também sou alérgica. Não houve jeito. Tenho que dar claritromicina duas vezes ao dia. Ela não é muito boa de tomar nem vitamina C, que dirá qualquer outra coisa que não seja sorvete de creme, único doce que ela gosta. Fora a preferência pelo sabor salgado, Laís também tem como característica sua imensa força. Na madrugada era necessário às vezes três enfermeiras para segurá-la. Eu nem tento, chamo logo o pai. É ele quem segura para tirar sangue, levou pra furar a orelha... Nestas horas eu só faço chorar. Só que hoje, infelizmente, ele não estava e eu levei uma bela cusparada dentro do nariz! Mais cinco minutos e... pronto! A minha garganta já estava grossa, arranhando. Deixei as duas com a avó e corri para o hospital. Invadi a enfermaria, nem deu tempo de esperar o médico me chamar, tamanho o meu desespero. Edema de glote não era o melhor jeito de me lembrar daqui a algum tempo que a minha filha, aos dois anos, era campeã em cuspe a distância. Agora à noite, improvisei uma máscara usando uma toalhinha de mão e uma tiara. Aquelas que são vendidas nas farmácias são feitas de TNT e confesso que pensei: “E se alguma gotinha ultrapassa o tecido?” Quem já teve uma reação alérgica desse porte entende a minha neurose... Aos outros, eu desejo que nunca passem por isso. E, novamente, agradeço a Deus: ainda bem que a reação foi em mim, e não na minha filha! Já pensou? Ela ainda nem sabe falar...
Sexta-feira, 26 de março de 2010.