Era uma vez uma menina ligada nos duzentos e vinte volts.
Sem parar, agitada toda a vida, curiosa como ela só, ninguém
conseguia segurar a imaginação,
a alma e muito
menos o corpo
daquela criança. Filha
minha, esqueci de dizer.
Depois de fazer
gritaria na rua,
show nos
consultórios e corredores
de shopping, ainda dá uma piscadinha para a gente perder o rebolado. Pois é, não
havia nada que
segurasse esta moça numa cadeira... Até que um dia chegou algo
feito carta
em envelope
cor-de-laranja, que a gente abriu correndinho, já
estávamos esperando. Era ela, a coleção
de livros do Itaú. Li o primeiro livro por pedido da
irmã dela, uma literata nata. Li o segundo
pela metade.
Tinha coisa
mais interessante passando na TV. E o
Lino ficou ali, caído
no chão, ao alcance
dos seus dedinhos. Pediu para ler, coisa que ela nunca faz. Quando o Lino apresentou a Lua
seus olhos
arregalaram feito nunca
tivessem visto nada
igual. “Ela
tem uma LUA na barriga!”
Foi ao fim da história,
acariciou a página, suspirou de espanto, voltou ao início,
recomeçou; e tudo que
era comentário
virou papo-poesia. A mãe lembrou do dia em que ela pediu a
LUA de presente,
do nome da irmã que
também era
ESTRELA, da dona
Sofia do mesmo André que tinha a poesia tatuada nas paredes
de casa... e derramou umas lagriminhas que a menina nem viu, nem
sentiu quando a voz
que lia
tremeu; mas elas
se juntaram às pontas de vento que
sopravam do livro quando Estrela
rodopiava com o Lino e voaram para longe, janela afora. Rumo à LUA?