terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Laís e Ísis (Uma história pra lá de incompleta)

Oi, eu sou a Laís. Esta é a minha história, ou melhor, minha e da minha irmã. Mas começa comigo porque, no início, só existia eu. Quer dizer, minha irmã já estava lá, mas ninguém sabia ainda. Na verdade, ninguém sabia também que eu era menina, eu bem que podia ser um “garotão”, como era vontade do meu pai.

Nossos pais, Fabiana e Cláudio, se conheceram em Muriqui, num feriado de Páscoa, há não muito exatos onze anos atrás. Desde o primeiro dia eles não pararam mais de se falar, mesmo que por telefone. Grudaram que nem chiclete.

Bom, essa parte do namoro eu vou pular, porque como eu sou muito pequena ainda, minha mãe não achou prudente me contar tudo. Eles namoraram e ponto. Pronto.
Depois de sete anos namorando eles resolveram se casar. Assim, como manda o figurino: igreja, vestido, festa e apartamento novo.

Bem, o apartamento estava meio vazio... Mas quem liga? Tinha amor sobrando pra tudo quanto era lado. Nenhum dos dois se importou de assistir TV sentado em cadeira de praia nem de comer com o prato na mão.

Meus pais tiveram de ter muita paciência com os nossos avós, que não se cansavam de pedir que a gente nascesse logo. Mas os dois estavam muito ocupados em estudar e trabalhar. Não tinham tempo de fazer a gente.

Até que um dia meu pai resolveu que já era hora. Falou com a minha mãe ( que já estava prontinha...) e os dois fabricaram nós duas: eu e minha irmã. Agora não me venham me perguntar como foi isso. Eu já expliquei que sou muito pequena e quando me contaram minha história pularam algumas partes. Esta foi uma das partes puladas. Quem quiser saber mais que pergunte pra eles. Se você for criança duvido que eles contem. Ou então vão inventar uma mentirinha para enrolar vocês.
Bom, a minha mãe soube que eu já estava na barriga dela no dia 21 de setembro, dia de ir à Bienal com o pessoal do trabalho. Aliás, este é o passeio preferido dela, nunca vi ninguém gostar tanto de livro. Depois de fazer um teste de farmácia antes de ir, ligou pro meu pai de lá mesmo, no meio daquela confusão de gente comprando livro, e contou pra ele. Mas quem disse que ele acreditou?

Bem, ele ficou assim, não acreditando, mas dizendo que quando o resultado do exame de sangue saísse, aí sim, poderiam comemorar. Mas quem disse que bastou? Meu pai é do tipo que gosta de tudo bem confirmadinho... Precisava esperar para me ver na televisão...

Eles ficaram quietinhos e não contaram pra ninguém, mas vovó e titia já estavam desconfiadas, porque nunca tinham visto minha mãe recusar chocolate.

Pois é, quando eles finalmente viram o bebê na televisão não era só eu, éramos duas (ou dois, né, ninguém sabia ainda) Minha mãe ficou paralisada, coitada, e só não caiu porque já estava deitada! Meu pai perguntava sem parar à doutora se era mesmo verdade. Insistiu tanto que a médica teve de ensiná-lo a contar de novo: um, dois, um, dois, enquanto mostrava a gente na telinha.

A partir daí, os dois, pra lá de assustados com o fato de terem mais de um filho de uma vez só, nem se animaram muito de comprar nossas roupinhas. A ficha demorou a cair. Mas a vovó Leila foi se adiantando e trazendo tudo como se fosse para um casal: um menino e uma menina. Agora eu vou parar de contar porque a Ísis não pára de me empurrar querendo contar o resto!

Oi, eu sou a Ísis, a outra gêmea desta história. Desde o início, quando minha mãe ia fazer a ultra, eu sempre fui difícil de examinar. A doutora me apertava com o aparelho e eu corria pro outro lado. Nas consultas de Pré-Natal, cadê que conseguiam escutar meu coração? Minha mãe resmungava logo: “Ih, é igualzinho ao pai, agitado. Este deve ser o menino...” Até hoje sou eu quem dá mais trabalho, faço tanta ginástica que quase não deixo a mamãe dormir.

Mas lá com 18 semanas, a doutora viu claramente: duas meninas. Ninguém contestou, com exceção do meu pai, que ainda teimava que tinha um garotão no meio da história. Teimou tanto que a médica disse: “Tudo bem, vou rezar para eu errar”, só pra não chatear o papai.

Esperando a confirmação da ultra para comprar o uniforme inteiro do Vasco (incluindo até chupeta e mamadeira), voltamos lá com 22 semanas para outro exame. Só que esta médica era brava e não gostou nada quando meu pai duvidou do sexo da gente. Ficou mostrando detalhadamente nossas partes baixas pra ele. Mas mesmo assim ele teimou (de novo) em perguntar: “Não dá pra virar um saquinho?”. Ela nem respondeu, só deu um suspirinho de falta de paciência...

Vovô Tage foi quem gostou, contou pra todo mundo antes dos nossos pais chegarem em casa. “Eu sabia que seriam duas meninas”.

Deste momento em diante, começou a busca por um nome. O da minha irmã não, pois já estava escolhido bem antes da minha mãe ficar grávida. Se fosse homem, já tinha nome. Mas sendo outra menininha... Foi aí que meu pai teimou (de novo) com um nome da mitologia grega que minha mãe tinha mencionado tempos atrás. Quis saber o significado e gostou – deusa ou espírito supremo. E aí pronto, ninguém poderia ousar discutir porque já estava decidido, eu me chamaria Ísis. Ainda bem que mamãe também gostou, ela teve uma colega de faculdade com este nome que era um doce de pessoa.

Bom, estamos crescendo e nossa história continua. Hoje temos mais personagens para compartilhar conosco a nossa trajetória, que apesar de curtinha e pra lá de incompleta, começou desse jeitinho que nós contamos (ou que nos contaram).

E você ? Também quer fazer parte da nossa história?