terça-feira, 6 de abril de 2010

Diário de uma escarlatina

Laís está internada com diagnóstico inicial de escarlatina. Pensávamos que não voltaríamos tão cedo aos corredores de um hospital, mas não houve jeito. Já completamos dois dias aqui e só hoje conseguimos desfrutar de uma pontinha de alívio. O quadro era tão feio que era impossível não entrar em desespero. Ela não tinha forças sequer para se sentar, e chorava a qualquer tentativa de tocar sua pele, que parecia queimada de sol. A pediatra também quis descartar a possibilidade da doença de Kawasaki (não sei como se escreve, depois pergunto ao Dr. Google) por isso pediu um ecocardiograma e a avaliação de um reumatologista. O eco deu normal, e o reumato ainda não veio. Acho que esta suspeita não vai se confirmar, ela está sem febre desde hoje cedo. -Ísis permaneceu em casa com a avó. Não pegou por pouco, estava tomando antibiótico por conta de um impetigo surgido no furo da orelha. - Os médicos e enfermeiros só adentram nosso quarto usando máscaras, mas os parentes e amigos que vieram visitar não demonstraram medo nenhum. Hoje, distraída com a lousa mágica que ganhou da tia-avó, Laís conseguiu suportar o incômodo do antibiótico na veia. Já brinca, os olhos desincharam, está menos vermelha e não reclama mais quando a tocamos. A pele descama em demasia, e afasta aquela “carinha de doente” que nos fazia tremer de medo de perdê-la. No entanto, sabemos que ainda há uma caminho a percorrer em direção a um completo restabelecimento, mas já não choro só de examinar seu rostinho... Meu olhar agora é de alegria, procuramos brincar com ela e esquecer que, de agora em diante, o mais importante é fazer com que este momento seja o menos doloroso possível... Quem sabe amanhã estaremos de volta para casa?



Domingo, 21 de março de 2010.

Estamos em casa. No carro, a caminho de casa, Laís não podia conter sua gargalhada, ficou radiante de ver o sol. Depois de quatro dias enclausurada, até eu perdi a noção da vida lá fora. Você não sabe se está chovendo, se está calor ou frio... No entanto, eu agradeci a Deus por ter ficado tão pouco tempo. Algumas mães passam seus dias e noites direto em hospitais. Peço perdão por ter reclamado.

Terça-feira, 23 de março de 2010.

Laís está bem melhor, a única coisa que a incomoda agora são as roupas, já que seu corpo está todo descamando e o calor reina. (Lá no hospital ela ficava no ar condicionado o dia inteiro, mas aqui em casa não dá. Na verdade também não queremos, nem eu nem ela. Ficamos tempo suficiente a janelas fechadas, sem sentir brisa nem ver a luz do sol. O pai ainda saía, mas eu sequer desci ao andar térreo) Portanto, ela só quer ficar assim: PELADA. E com a fralda arriada até o meio do bumbum. Volta e meia está se coçando e arrancando as pelinhas. Até a Ísis tem se ocupado em descascar a irmã.

Quinta-feira, 25 de março de 2010.

O antibiótico que a Laís está tomando é um veneno pra mim. Antes o receitado foi a amoxacilina, mas eu também sou alérgica. Não houve jeito. Tenho que dar claritromicina duas vezes ao dia. Ela não é muito boa de tomar nem vitamina C, que dirá qualquer outra coisa que não seja sorvete de creme, único doce que ela gosta. Fora a preferência pelo sabor salgado, Laís também tem como característica sua imensa força. Na madrugada era necessário às vezes três enfermeiras para segurá-la. Eu nem tento, chamo logo o pai. É ele quem segura para tirar sangue, levou pra furar a orelha... Nestas horas eu só faço chorar. Só que hoje, infelizmente, ele não estava e eu levei uma bela cusparada dentro do nariz! Mais cinco minutos e... pronto! A minha garganta já estava grossa, arranhando. Deixei as duas com a avó e corri para o hospital. Invadi a enfermaria, nem deu tempo de esperar o médico me chamar, tamanho o meu desespero. Edema de glote não era o melhor jeito de me lembrar daqui a algum tempo que a minha filha, aos dois anos, era campeã em cuspe a distância. Agora à noite, improvisei uma máscara usando uma toalhinha de mão e uma tiara. Aquelas que são vendidas nas farmácias são feitas de TNT e confesso que pensei: “E se alguma gotinha ultrapassa o tecido?” Quem já teve uma reação alérgica desse porte entende a minha neurose... Aos outros, eu desejo que nunca passem por isso. E, novamente, agradeço a Deus: ainda bem que a reação foi em mim, e não na minha filha! Já pensou? Ela ainda nem sabe falar...

Sexta-feira, 26 de março de 2010.